Dois meses após fechamento do lixão de Apodi, catadores vivem abandono e dificuldades financeiras

(Foto: Josemário Alves - Apodi 360)

Dois meses depois do fechamento definitivo do lixão a céu aberto de Apodi, oito catadores de materiais recicláveis enfrentam uma dura realidade: abandono, dificuldades financeiras e falta de perspectiva.

Desde o dia 6 de junho, quando o espaço foi lacrado com cadeados e correntes, nenhum representante da Prefeitura voltou ao local para conversar, ouvir ou sequer apresentar uma proposta concreta de apoio, é o que afirmam os próprios trabalhadores.

Segundo o grupo, juntos eles recolhiam cerca de 20 mil quilos de materiais recicláveis por mês. Cada um conseguia faturar entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00. Era o suficiente para garantir comida, energia e o mínimo de dignidade às famílias. 

Hoje, sobrevivem como podem: uns fazem bicos na agricultura, outros dependem do Bolsa Família, e há até quem não tenha nenhum auxílio.

(Foto: Josemário Alves - Apodi 360)

Francisco Wendson, conhecido como “Tampinha”, de 42 anos, trabalhava no lixão há 12 anos. Mesmo com o fechamento oficial, ele e mais dois colegas ainda insistem em catar o que conseguem nos arredores. 

“A gente continua catando, porque nós sobrevivemos dali. Aqui, não tem ninguém que ajude a gente”, relatou ele durante uma roda de conversa montada pelos próprios catadores, no assentamento Casulo, para receber a reportagem do blog Apodi 360, na tarde desta quarta-feira (06).

José William, de 35 anos, contou que não recebe nenhum benefício social. “Estou sobrevivendo de um bico e outro na diária da agricultura. Faço uns R$ 600 no mês, só”, disse.

(Foto: Josemário Alves - Apodi 360)

Enquanto ele relatava sua situação, os amigos mais próximos revelavam baixinho que na casa de William não tinha nada, e que eram os vizinhos quem o ajudavam com alimentos, dando um quilo de arroz, outro de feijão, dentre outros.

Já Alcivan Gomes, de 48 anos, trabalhava catando recicláveis para sustentar a esposa e seus dois filhos. Atualmente, está fazendo milagres apenas com o Bolsa Família.

“Sobrevivemos de bico, quando tem, e do Bolsa Família, que não dá pra nada no mês. A situação tá bem difícil lá em casa”, disse ele com semblante de tristeza.

Os catadores relatam que houve promessas da Prefeitura e até do Sebrae para a criação de uma cooperativa e oferta de cursos, mas alegam que nada saiu do papel. 

(Foto: Josemário Alves - Apodi 360)

“Antes de fechar o lixão, não nos disseram nada. Chegaram e fecharam”, lamentou Max Emiliano, o Marquinhos, de 38 anos, que trabalhava no lixão há 25 anos. “Desde o tempo da ex-prefeita Gorete que dizem que vão fazer essa cooperativa, mas nunca fizeram. Eu tenho até um papel da época oficializando que sou catador de recicláveis”, acrescentou.

Lucimara Raquel, esposa de Marquinhos, reforçou: “Era pra terem feito uma reunião, anunciado que ia fechar o lixão e ter elaborado um plano pra não deixar a gente desamparado”.

Já a Vanda do Nascimento, de 55 anos, era catadora e está prestes a se aposentar por idade. Durante a conversa, ela resumiu a sua vida com tristeza. “Trabalhei em todos os lixões da região, o daqui de Apodi quando era ali embaixo da serra, o de Felipe Guerra, esse daqui. Dei de comer aos meus filhos e netos com o que tirei do lixo. Agora, nem isso temos mais”, finalizou.

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O que diz a Prefeitura

(Foto: Josemário Alves - Apodi 360)

Diante das acusações de abandono, o blog Apodi 360 procurou a Prefeitura Municipal de Apodi, através da Chefia de Gabinete, para ouvir a sua versão.

Em nota, a Prefeitura afirmou que tem mantido diálogo com os catadores desde o fechamento do lixão. Segundo a gestão, houve uma escuta inicial com os oito trabalhadores, e atualmente está em andamento uma parceria com o programa Pro Catadores, do Sebrae, com objetivo de criar uma associação formal dos catadores, permitindo acesso a capacitações, apoio institucional e futura atuação na coleta seletiva de forma organizada.

Ainda segundo a nota, todos os catadores foram cadastrados ou atualizados no Bolsa Família, com o registro formal da ocupação como catador de recicláveis.

“Embora o fechamento do lixão represente uma mudança importante, a gestão municipal está empenhada em construir alternativas reais e duradouras para garantir que essas famílias não fiquem desassistidas”, diz o comunicado oficial.

Enquanto os planos não saem do papel, os catadores seguem lutando por sobrevivência e visibilidade. Do chão onde antes retiravam sustento, agora tiram apenas poeira e esperança.

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